O Brasil quer se tornar um grande centroprodutor de tablets, com capacidade para abastecer o mercado doméstico e exportar para a América Latina. Esse é o plano do governo federal com a criação de lei que estimula essa indústria e já atraiu mais de 25 companhias, entre nacionais e internacionais, interessadas na fabricação local. Seis delas já estão produzindo com incentivos fiscais e prometem aparelhos mais acessíveis aos brasileiros.
As que deram o pontapé inicial são: AIOX, Motorola, MXT, Positivo, Samsung e Semp Toshiba. As demais estão na fila de espera, aguardando sinal verde do governo federal para enquadrar seus produtos à nova regulamentação, ou concluindo planos de investimentos para industrialização no Brasil.
As que saíram na frente foram as primeiras a atender aos requisitos da Medida Provisória (MP) 534, criada pela equipe da presidente Dilma Rousseff estabelecendo o Processo Produtivo Básico (PPB) para fabricação local de Tablet PC. A proposta aprovada pelo Congresso Nacional inclui os dispositivos na chamada “Lei do Bem”, que isentou as alíquotas do PIS/Cofins, que incidem sobre a receita bruta da venda no varejo desses produtos.
A expectativa do Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Aloizio Mercadante, é que a nova lei popularize o uso de tablets no Brasil da mesma forma que aconteceu com os PCs, quando a indústria se beneficiou da isenção de impostos. Pelos seus cálculos, a medida que acaba de ser aprovada reduz em mais de 30% o preço final desses produtos.
Em contrapartida, a nova regulamentação determina que os tablets produzidos no Brasil sem impostos contenham 25% de componentes nacionais no primeiro ano. Após três anos, essa exigência sobe para 80%. A medida tem o objetivo de obrigar as empresas, principalmente as multinacionais, a investirem aqui em centros de pesquisas e inovação.
O plano do governo é tornar o Brasil um centro de desenvolvimento desses dispositivos, criando um ecossistema com atores de toda a cadeia produtiva. Entretanto, o País tem o grande desafio de estabelecer duas fábricas essenciais para esse processo que são a de chip e a de telas de LCD para equipar os dispositivos móveis.
“É importante que o governo tenha visão e lucidez para trabalhar junto com essas empresas que estão interessadas em fabricação local. Elas têm de instalar laboratórios aqui para evitar que o Brasil não se torne apenas um montador de tablets”, adverte a presidente da Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucape) de Manaus, Isa Assef. Em sua opinião, um modelo ideal para isso seria envolver os institutos brasileiros de pesquisas nessa operação para cooperação e transferência de conhecimento.
Espera pelo iPad
Antes da aprovação da MP pelo Congresso Nacional, apreciada pelo Senado em setembro, 26 indústrias entraram com pedido para enquadramento ao PPB dos tablets junto aos ministérios da Fazenda; Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI). Entre essas, oito foram habilitadas a iniciar a produção dos equipamentos com incentivos, sendo que seis (AIOX, Motorola, MXT, Positivo, Samsung e Semp Toshiba) já começaram a fabricação.
A coreana LG e a espanhola Envision já obtiveram o PPB para produção de tablets, mas não estabeleceram ainda plantas para a fabricação dos produtos. Ambas informaram que a manufatura dos dispositivos no Brasil está prevista para o ano que vem. No caso da Envision, a montagem será em parceria com a brasileira AOC, com planta industrial, instalada na cidade de Jundiaí (SP), a mesma região onde está estabelecida a Foxconn, a fabricante da Apple na China.
O iPad da Apple com selo nacional, tão aguardado pelos brasileiros, ainda está na fila de espera. A fabricante chinesa Foxconn, responsável pela produção da marca, não definiu ainda seu plano de produção local. Mercadante espera que os dispositivos da companhia consigam chegar ao varejo até dezembro, antes do Natal.
Analistas do mercado demonstram menos otimismo com esse cronograma em razão das várias mudanças das datas prometidas para início de fabricação pela montadora chinesa. Quando a Foxconn anunciou o interesse em produzir iPad no Brasil, em abril deste ano, foi sinalizado que a operação começaria em julho na cidade de Jundiaí (SP), onde a empresa está sediada.
Na época, representantes do governo e da Foxconn apresentaram um ambicioso plano de investimentos no País, envolvendo aporte de 12 bilhões de dólares em uma fábrica para produção de dispositivos da Apple e geração de 100 mil empregos no prazo de cinco anos.
Mercadante justifica que o atraso em fechar um acordo com a fabricante chinesa é pela dificuldade em encontrar um sócio brasileiro disposto a entrar no negócio. Ele disse que o governo está buscando apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Corrida pelo mercado
Enquanto o iPad brasileiro não chega, fabricantes de tablets que abraçaram o sistema operacional Android do Google, correm para fixar a marca no mercado nacional, considerado bastante promissor para venda desse tipo de produto. Projeções da IDC estimam que serão comercializados 300 mil unidades dessa categoria de portáteis no País em 2011, três vezes mais que os 100 mil equipamentos vendidos em 2010. Entretanto, o boom desse setor está sendo esperado para 2012, quando as novas fábricas estarão a todo vapor e com produção em grande escala.
“Os tablets tornaram-se objetos de desejo e deverão ser um dos produtos mais vendidos no Natal deste ano”, aposta o presidente da Positivo, Hélio Rotenberg, que enxerga como grandes compradores o mercado corporativo, setor de educação e consumidor final. A empresa acaba de entrar na disputa por esses clientes com o lançamento da linha “Ypy”, que em tupi-guarani, quer dizer “o primeiro”.
O produto da Positivo foi projetado para competir com o iPad da Apple. Segundo Rotenberg, os tablets da marca exigiram dois anos de pesquisas e chegam ao mercado com novidades. Os aparelhos rodam o sistema operacional Android, totalmente localizado para os consumidores locais, têm telas de sete ou dez polegadas e vêm nas versões Wi-Fi e 3G. O modelo mais simples, com tela de sete polegadas e Wi-Fi, estará disponível para venda no varejo por 999 reais.
“Nosso tablet foi desenvolvido por brasileiros para brasileiros e não perde em nada para o líder desse mercado”, garante Rotenberg. Ele menciona inovações em hardware, sistema operacional e ecossistema de aplicativos. O produto será fabricado nas plantas da empresa de Curitiba e Manaus para se beneficiar dos incentivos oferecidos pelas duas cidades.
Outra brasileira que está pronta para brigar nessa arena é a fabricante de computadores AOIX do Brasil, que opera com planta industrial na cidade de Caçador (SC). A empresa fabrica dois modelos da linha BRAOX de sete e dez polegadas com incentivo fiscal. O mais simples, sem acesso 3G, custa 799 reais. A expectativa da companhia é produzir mensalmente 100 mil unidades, somando as duas versões. Em 2012, a empresa espera, sozinha, comercializar 1 milhão desses equipamentos.
O diretor comercial da AOIX, Jacson Oliveira, acredita que os tablets vão desbancar os notebooks e também os celulares. Os principais comparadores segundo ele são os mercados corporativo e educacional, além de adolescentes. “Somente o Ministério de Educação (MEC) deverá lançar em outubro deste ano um edital para compra de 600 mil dispositivos dessa categoria.”
A AIOX vai participar da licitação e também aposta no público jovem, com a produção de tablets coloridos.
Na MXT, com planta industrial em Betin (MG), onde são produzidos os tablets da marca com o PPB, o plano é atacar o mercado corporativo, com fornecimento de dispositivos para o setor industrial e serviços públicos como para carros de polícia e ambulâncias. Tanto, que a companhia ganhou uma licitação para a venda de 11 mil unidades para a Polícia Militar de São Paulo, sendo que 7 mil já estão em uso.
Para explorar esse mercado, a MXT investiu 25 milhões de reais em uma planta industrial com capacidade para produzir 5 mil tablets por mês. “Nossos planos são de produzir oito modelos até o final de 2011”, conta Greco, informando que diferente de outras empresas, seu maior concorrente não é a Apple, mas sim as companhias que fabricam dispositivos para indústria e serviços públicos.
Fonte: COMPUTERWORLD http://computerworld.uol.com.br/tecnologia/2011/11/10/tablets-made-in-brasil/